Fazem mais de 10 anos que acampo no Parque Nacional de Santa Teresa e sou encantada por ele até hoje. Tenho ido acampar lá no mínimo 1 vez por ano e toda vez é diferente, podem acontecer coisas mágicas e surpreendentes. Já vivi momentos de intensa alegria e nostalgia. É um prazer acordar cedo quando o sol bate na barraca e o
calor não dos deixa dormir, só assim para aproveitar bem o dia, se não o lugar é tão relaxante que não dá vontade de fazer nada. Adoro tomar café da manhã com vista pro mar e bater longos papos com os companheiros de camping, depois passar o dia na praia, praticar esportes, estar entre amigos ou somente com alguém especial. É lindo ver a lua cheia surgir em alto mar e iluminar as noites sem luz. Poder se esquentar ao redor da fogueira preparando uma parrillada ( cordeiro inteiro na grelha, miúdos, pimentão recheado com provolone e outras delícias), cantando ao som do violão, bebendo muita cerveja, vinho ou para as noites mais agitadas, uma tequila (tudo comprado bem baratinho no chuy), ou simplesmente deitar na rede tendo a sensação que todas as estrelas estão acesas só pra mim e ficam se escondendo no balanço das folhas das árvores.
Tem noites que só se escuta o barulho do mar e do vento movimentando as copas das árvores. Já tem outras noites com muito barulho, vários tipos de música e gente gritando. E de repente alguém imita um pássaro, e esse som se espalha pelo parque tão alto que vários escutam e começam a imitar, a música pára e todos falam a mesma língua. Em noites assim já conheci muita gente interessante, às vezes eu pego a lanterna (sozinha ou com amigos) e saio procurando outro acampamento mais animado. Dessas noites surgiram amores, grandes amizades e muita história pra contar. Essa não é uma experiência só minha, sei de muitas histórias fantásticas desse lugar. É muito bom estar em contato com a natureza desse jeito, sempre volto com as energias renovadas e com um sorriso no rosto dos momentos que vivi.
Mas nem tudo são flores, depois de todos esses anos, na última Páscoa vivi coisas que jamais imaginei que poderiam acontecer comigo. Estava de guia de uma excursão (como tenho feito desde 2004) e no primeiro dia tudo foi tranqüilo, montamos uma super
estrutura e estávamos prontos para enfrentar eventuais contratempos (ventanias, temporais, animais indesejados, etc...). Chegou a hora de procurar lenha no mato para fazer a fogueira, fomos eu Adrien e Boris (amigos franceses que estavam no parque pela primeira vez), eu consegui bater e derrubar com as lenhas uma colméia de bichos voadores, peludos, pretos e com 2 listras amarelas!!! Mas eu não tinha percebido o que havia feito, quando os vi voando ao meu redor resolvi ficar parada para não me atacarem, não adiantou, eles entraram na dentro da minha roupa e me picaram, comecei a gritar e tirar a roupa até que Boris foi me ajudar e os bichos entraram na bermuda dele, foi horrível, saímos correndo, e enquanto isso o Adrien havia se perdido no mato. Ficamos com bolas no corpo e muita dor. Mesmo assim conseguimos aproveitar o resto do dia. Nesta mesma noite dormi com um escorpião (havia esquecido de colocar alho ao redor da barraca, que espanta alguns bichinhos peçonhentos), me acordei e lá estava ele. Foi fácil matar, era um filhotinho. No segundo dia começou a chover e não parou mais, cavamos caneletas ao redor das barracas e ficamos o dia todo bebendo, tendo conversas animadas em baixo da lona e a todo o momento alguém tinha que
tirar a água acumulada pra não furar a lona. Mas tudo bem, fomos dormir animados até que no meio da noite eu senti que água começou a entrar. Pensei em sair e cavar mais pouco para mudar o curso da água, quando abri a barraca veio uma enxurrada pra cima de mim, veio terra, galhos e muita água. Tudo o que eu tinha molhou, acabei indo dormir no carro que estava lotado, pois todas as barracas estavam inundadas. No outro dia, continuava chovendo, eu descobri o motivo pelo qual a minha barraca foi a mais atingida. Todos fizeram canaletas que formaram um rio que acabava na porta da minha barraca. Voltei pra Porto Alegre, suja, com dor e com tudo molhado. Paciência, só espero que tenha sido só dessa vez, e que o parque continue sendo meu lugar preferido.
O Parque
Situado numa área militar, o parque é um lugar fascinante, desenhado com um grande sentido estético e mantendo o equilíbrio ecológico. Surgiu ao redor da Fortaleza de Santa Teresa, de 1762. Depois que o forte foi abandonado e saqueado, houve uma restauração em 1928 e é mantido pelos militares uruguaios até hoje.
São 3.000 hectares com mais de dois milhões de árvores, exóticas e nativas, 60 km de estradas internas asfaltadas, 15 km de praias com muita vegetação, museus e animais que andam soltos, entre outros atrativos. Tudo muito bem sinalizado. Está localizado a 500 quilômetros de Porto Alegre. São duas entradas, pela Fortaleza, que pode ser vista da estrada, ou mais adiante, pela entrada principal no quilômetro 302, da rota 9.
Tem muito que fazer dentro e fora do Parque. A Capatacia, onde funciona a coordenação, fica próximo ao Museu
Histórico e a Lagoa de Peña, que oferecem serviços de visita guiada. O Invernáculo ém lugar especial para renovar as energias. É uma estufa com plantas exóticas do mundo com um aroma agradável e música ambiental, é muito boa a sensação de estar lá dentro. Saindo
da estufa, segue-se pelo perfumado Rosedal (corredor com mais de 300 espécies de rosas) até o Sombráculo (local onde habitam plantas exóticas que precisam de meia-luz). A Pajarera, onde podemos ver a maior concentração de animais, tem uma linda vista do pôr-
do-sol. El Chorro apresenta uma vegetação bonita e um
a piscina de pedra com água doce. A Fortaleza de Santa Teresa conta com um museu cheio de objetos curiosos. Do alto da Fortaleza, é possível ver o pôr-do-sol no pampa uruguaio. E há praias maravilhosas la Moza, las Achiras, el Barco e Playa Grande. São divididas por interessantes formações rochosas, entre a segunda e a terceira tem a
Punta Cerro Chato. Na praia las Achiras, ao contrário da Playa Grande, o mar é calmo.
De dezembro à março o parque tem diversos serviços para satisfazer quem gosta de camping selvagem, mas com infra-estrutura. Na praia de la Moza, os espaços possuem tomada e torneira. Tem bar, sorveteria, fliperama, restaurante, minimercado, pizzaria, padaria, açougue, serviços telefônicos, serviços de ônibus, aluguel de banheiros químicos, água potável, banheiros públicos com caldeira e lenha cortada. O espaço para camping é tão grande que é quase impossível ter outras pessoas acampadas perto demais. É possível tanto acampar com muita gente e infra-estrutura por perto como isolar-se totalmente.
De manhã cedo, há surfistas de carro andando de um lado para outro, procurando a melhor onda. Geralmente as boas estão em La Moza ou Playa Grande. Como o mar é muito gelado, é necessário roupa especial. O lugar também é
famoso pela pesca. Muitos fazem manobras de skate ou andam de bicicleta, roller e fazem caminhadas pelas estradas asfaltadas. Outro esporte muito legal é sandboard, quando a maré está alta na praia grande, é possível descer com muita velocidade e chegar até o mar.
Marcadores: camping, Parque Santa Teresa, Uruguai